#books: Travessuras da Menina Má

1/04/2018

"Que pirosices me vais dizer hoje?"
In Travessuras da Menina Má, Mário Vargas Losa, 2006

Ainda estou a tentar decidir se este romance de Vargas Losa é uma história de amor. Se for uma história de amor, nunca será uma história de amor típica. É uma história sobre o pior que tem o amor. E sobre o que o amor tem de melhor.
Ricardo e a Menina Má conhecem-se ainda na adolescência, em Lima, na década de 1950 (ou talvez um pouco antes), apaixonando-se Ricardo por ela durante o que ele descreve como um "Verão fabuloso". O primeiro desgosto surge precisamente na adolescência, quando ele descobre que Lili, a chileninha, não é quem diz ser e desaparece do bairro onde vivia, deixando-o vazio. Vazio que o acompanha até Paris, onde sonhou viver durante toda a vida e onde se reencontra com a Menina Má pela primeira vez. A história desenrola-se à volta de encontros e desencontros desta relação, nos mais variados locais do mundo. É uma história de amor muito bonita, com ilusões de felicidade conjugal idílicas (ou a mais genuína felicidade?) e desilusões proporcionais. 
Ao longo do livro, odiei e admirei a Menina Má (que afinal se chama Otília). Estava sempre insatisfeita, em luta contra si mesma e a sua natureza. Tinha uma tenacidade própria de quem não nasceu com o que achava ser seu por direito. E por isso sacrificou muito, para ter muito. 
E admirei e odiei o Ricardo (o Menino Bom). Fiquei a pensar como nos faz mal amar demais e como é possível alguém tolerar tanto por amor. Perdoar de forma infinita. Devotar a vida a alguém que nunca nos retribuirá o amor. Contentar-se com o possível. 
Já li e reli o livro. E emociono-me sempre. Revolto-me sempre. Zango-me. Rio-me. E compreendo a felicidade fugaz que vivem no fim. E perdoo as personagens, os seus defeitos. É assim a boa escrita, são assim as boas histórias. Fazem-nos experienciar a narrativa como se fosse a nossa própria história... 
Não há amores errados. Há amores que ficam. Pessoas em que se persiste. Mãos que se encontram e se agarram a derrubar barreiras de orgulho e dor. Há amores que marcam. E sim, é uma história de amor. 

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